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quinta-feira, 24 de março de 2011

Qual a diferença entre um poste e uma árvore?

Na ansiedade meio contida e meio não de conseguir apreender e assimilar em tão pouco tempo todas as coisas riquíssimas que foram ditas hoje/ontem (tarefa que, pelo menos para mim, é sempre difícil), me ficou escapando pelos dedos uma divagação meio torta, talvez sem fundamento concreto, mas que foi jogada a mim por mim mesma e agora continuo o jogo passando pra vocês, na forma dessa postagem, provavelmente bem menos formulada do que eu gostaria.

Um dos tópicos mais visitados na conversa de hoje (até porque é foco do nosso projeto), foi a intenção de tentar trazer para o espaço urbano a sensação holística que experimentamos quando em maior contato com a natureza. E, como foi dito, isso será claramente um desafio.

Transitamos por diversas outras questões, mas uma que me ficou vibrante na cabeça foi a de que somos feitos todos da mesma essência, quando tratando da matéria (lembro da Marisa falando da amiga que se surpreendeu ao se dar conta de que é composta da mesma coisa que compões um cristal, o que me fez pensar: “e então, o que me diferencia de um cristal? Ou de qualquer outra matéria, corpo ou objeto?” Acredito que isso por si só já é uma provocação maior do que eu acho que possa dar conta, mas nem é bem ela a principal dessa postagem) portanto, somos capazes de nos “identificar” com qualquer objeto existente no mundo. Certo? Ou seja, teórica e grosseiramente falando, deveríamos poder nos identificar com (e nos sentir “confortáveis” perto de) elementos do espaço urbano tanto quanto com elementos da natureza. Certo?

Somos “compatíveis” com um poste tanto quanto com uma árvore (?).

Todas essas aspas e pontos de interrogação servem para ilustrar quão titubeante estou ao afirmar assim tudo isso e quão tosco e objetivo é o modo como coloquei tudo isso. Mas onde eu queria realmente chegar é no fato de que, mesmo isso fazendo total sentido, nós ainda sim não nos sentimos tão integrados com o mundo num espaço urbano quanto tendemos a nos sentir na natureza (por isso que será um desafio, né?). É difícil tratar disso dessa forma, porque é como se eu afirmasse que natureza e espaço urbano são distintos e independentes. Compreendo que não é bem assim (o que me remete ao conceito de holarquia também citado pela Marisa e à prática de fragmentação ocidental), e que temos que começar a quebrar com essas dualidades de agora, mas falo assim para ilustrar meu raciocínio. Que é o seguinte:

Por quê que, mesmo sabendo que, em teoria, essa integração com o mundo urbano também é possível, nós não nos sentimos nessa totalidade tão facilmente quanto quando estamos “na natureza”? (Na verdade o raciocínio vem agora!).

A melhor resposta que obtive é que, mesmo possuindo essa capacidade de compatibilidade, nós fazemos parte de uma natureza que eu chamaria (talvez equivocadamente) de “primordial”. Ou seja, as coisas que foram “criadas por Deus” nos 6 primeiro dias.

Essas coisas foram projetadas para viverem harmonicamente em conjunto, citações bíblicas à parte, desde o começo dos tempos, seja lá por qual entidade ou força superior. E nós estamos inclusos como seres vivos convivendo nesse sistema.

Porém, a paisagem urbana é excessivamente recheada de conseqüências exageradas da ação humana sobre a natureza (prédios; carros; transito; poluição urbana – visual, sonora, do ambiente como ar e etc). Já esses elementos não estão entre nós desde o começo do mundo, eles foram frutos das nossas mãos e, por mais que possamos nos adaptar a eles (o que acontece, claro, bem ou mal, caso contrário não existiriam seres humanos habitando cidades), essa convivência não é natural, ao menos não tanto quanto com esses outros elementos “primordiais” da natureza. Fomos condicionados a essa convivência e, por mais que já muito bem adaptados a ela, em algum lugar acredito que ainda grite dentro da gente a sensação de que não fomos desenhados inicialmente para viver no meio de todo esse caos de pedra (porque caos existe em tudo que é canto, mas milhares de carros buzinando numa fila em pleno sol do meio dia enquanto você se morde de angustia por já tá atrasado pro trabalho foi um caos totalmente gerado por nós) – feito os passarinhos da minha varanda, por mais clichê que a analogia seja. E tem ainda outra questão. Existem ainda pessoas que simplesmente não agüentam a natureza. Essas assimilaram completamente esse modo urbano de vida, imagino. E as que não suportam natureza, mas vivem estressadas com o estilo de vida urbano? Ficaram pelo caminho, acredito...

Enfim, foi pensando nisso tudo que, mesmo sendo eu simpatizante fervorosa do conceito de holarquia, não pude fugir do conceito de hierarquia – será que existe uma hierarquia de matéria? Será que esses elementos que já são inerentes ao mundo, ou frutos naturais dele não seriam “melhores” ou “mais importantes” do que esses só criados porque temos a sorte de possuir um cérebro “pensante” e um polegar opositor?

Ufa! Nem sei se consegui me explicar direitinho... Mas enfim, fiquei orbitando por entre esse bocado de coisas que joguei aqui. Espero que algo possa ter sido compreendido e/ou despertado. O que acham?

Beijos nos corações!

Rafa.

Anexo 1: O texto do livro “My Antonia” que falei...

“Sentei-me no meio do jardim, onde as serpentes dificilmente se aproximariam sem serem vistas, e encostei minhas costas contra uma abóbora quente e amarela. Haviam alguns arbustos rasteiros de cereja crescendo ao longo dos sulcos, cheio de fruta. Levantei as folhas triangulares que protegiam as frutas e comi algumas. Ao meu redor, gafanhotos gigantes, duas vezes maior que qualquer outro que eu já tinha visto, estavam fazendo acrobacias entre as videiras secas. Eles pulavam para cima e para baixo na terra arada. Lá o vento não soprava muito forte, mas eu podia ouvi-lo cantando
sua melodia murmurada até lá em cima, e eu podia ver a grama alta oscilando. A
terra estava quente debaixo de mim, e quente estava enquanto eu a sentia através de meus dedos. Pequeninos besouros vermelhos apareceram e moviam-se em esquadrões lentamente ao meu redor. Suas costas eram de um vermelho polido, com manchas pretas. Eu me mantive tão parado quanto conseguia. Nada aconteceu. Eu não esperava que nada acontecesse. Eu
era algo que estava sob o sol e o sentia, como as abóboras, e eu
não queria ser mais nada além disso. Eu estava totalmente feliz.
Talvez seja assim que nos sentimos quando
morremos e nos tornamos parte de algo inteiro. Seja isso o sol ou o ar, ou a bondade ou o conhecimento. De qualquer forma, isso é felicidade; ser dissolvido em algo completo e grande.
E quando isso acontece com alguém, acontece tão naturalmente quanto o sono.

O David ta certo... Não é preciso morrer.

Anexo 2: Fotinha. (Facebook de Fernanda Porto).

http://www.facebook.com/photo.php?fbid=10150106564279393&set=a.293086694392.141339.526454392&theater


2 comentários:

  1. Rafa, dá uma olhada: http://umnaolugarnatural.blogspot.com/2011/03/o-incrivel-caso-do-poste-que-virou.html

    Resposta ao teu post. Valeu, Beijinho!

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